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terça-feira, 2 de outubro de 2012

SENHOR NOSSO DEUS O PAPA

Geralmente esta acusação anti-católica é assim apresentada:

"No documento Extravagantes do Papa João XXII (Cum. Inter, Título 14, Capítulo 4, "Ad Callem Sexti Decretalium", Coluna 140, Paris, 1685), o Código de Direito Canônico diz que é heresia negar o poder de 'Nosso Senhor Deus o Papa'. Em uma edição belga de Extravagantes, esta citação aparece na coluna 153".

Na verdade, o trabalho em questão, o 'Extravagante do Papa João XXII', foi escrito por Zenzelinus canonista de Cassanis, no início do século XIV, mas, será que realmente ele escreveu "Senhor Nosso Deus o Papa"?


QUEM FOI ZENZELINUS DE CASSANIS?

Do léxico eclesiástico de Traugott Bautz (Traugott Bautz Kerchenblexon), lemos:

"Zenzelinus de Cassanis, capelão, canonista papal, faleceu em 1334 em Avignon. Até 1317 ocupou o cargo de professor de direito canônico em Montpellier. De suas dissertações conservamos apenas algumas glosas. Seu trabalho fortaleceu as bases legais do papado contra as tendências conciliaristas".

[Texto original em alemão - Deixo de reproduzir (Oswaldo)]

QUAL FOI O TRABALHAO DE ZENZELINUS 
COMO COMENTARISTA?

Da Enciclopédia Católica:
Documento com glosa marginal
"Glosa: É uma interpretação ou explicação de termos e palavras. O anotador é quem faz tal interpretação ou explicação de um texto e o faz palavra por palavra. Portanto, um glossário é uma coleção de palavras cujas observações e notas foram reunidas, e o glosador é quem realiza a explicação ou ilustração de um determinado texto. No direito canônico, as glosas são breves esclarecimentos, ou explicações ao lado das principais palavras dos textos legais e coleções que constituem o "Corpus Juris Canonici". O termo glosa, porém, é também, utilizado para descrever um conjunto de notas de qualquer coleção. Os comentaristas, como tal, foram os canonistas, que viveram durante o período clássico do Direito Canônico, do século XII a XV, embora muitos deles estivessem ocupados em outros trabalhos e não apenas em tais interpretações".

Documento com glosa Interlinear

Da Enciclopédia Católica, em Decretos Papais (do inglês).
"Era costume acrescentar às cópias manuscritas de textos canônicos, explicações textuais escritas entre as linhas - glosa interlinear - e sobre a margem das páginas - glosa marginal. Também se colocavam notas explicativas sobre o tema. (Traducción libre de B&T].
Assim, podemos ver que as glosas eram apenas comentários sobre o direito canônico e não havia nenhuma obrigação de segui-las nem existia infalibilidade doutrinal sobre elas. Os comentaristas eram comentaristas do direito; não eram papas e seus pontos de vista não devem ser considerados infalíveis".

Voltemos à imputação anti-católica.

A anotação em questão é a de Extravagantes, de Zenzelius de Cassanis; enquanto há outras, chamadas "Extravagantes comunni" embora isto seja de pouca importância.
Da Enciclopédia Católica lemos:

Em 1325 Zenzerlinus de Cassanis acrescentou uma anotação a vinte constituições do Papa João XXII, e chamou sua coleção de "Viginti Extravagantes pap Joannis XXII". As demais eram conhecidas como "Extravagantes Comunni", título dado à coleção de Jean Chappuis na edição de Paris do "Corpus Juris" (1499-1505). Ele adotou a ordem sistemática das coleções oficiais do direito canônico.

O Imperador Justiniano ordenou se compilassem as leis do tempo para formar o Corpus Juris Civilis.
 O Corpus Iuris mais tarde influenciou o Direito Canônico depois.
Em 1500, Jean Chapuis, advogado francês, recolheu e ordenou todas as coleções dos últimos séculos, incluindo as Extravagantes, do Corpus Juris Canonici.

O leitor deve notar que Zenzelinus morreu em 1334, quase 160 anos após a primeira coleção parisiense. Também é notável o fato de que não é sua edição [com sua glosa] a fonte da imputação da proposição errônea: 'Senhor Deus o Papa', mas de uma edição muito mais tardia, a de 1685.
Lembre-se: a denúncia anti-católica diz que na glosa de Zenzelinus se refere-se ao papa como 'Senhor Deus o Papa"

Então, vamos considerar as Extravantes em seu original. Ela é completa, sem textos intercalados, na Biblioteca do Vaticano. A literatura de referência é a seguinte: "Gencelinus de Cassanis, Glossa ordinaria ion Extravagant Iohannis XXII - Ms.: BAV, Vat lat 122397, ff. 171rb-133. (.....)

(.....................................)

O que encontramos aqui é que as palavras "Senhor Deus o Papa" não aparece no documento original na Biblioteca do Vaticano. 

Encontramos o que, então?

Nada! 

A proposição "Senhor Deus o Papa", é encontrada somente na versão parisiense, muito tempo depois, em 1685. Em outras palavras, cerca 350 anos depois que  o original foi escrito. E se essas palavras aparecem na edição de Paris podemos dizer o seguinte:

1. A proposição anexada não aparece no original, senão em cópias que data de muito tempo depois, no caso da edição de Paris, com aproximadamente 350 anos após. (intervalo de 1325 a 1685)

2. Desde que as glosas se referem aos comentários da lei canônica, não estão relacionadas com a doutrina, nem com pronunciamentos doutrinais, nem, tão-pouco, emanaram do papa.

3. A edição desta falsificação (e numa data tão posterior), de nenhuma maneira afeta a verdade de instituição divina do papado, da mesma forma que não poderiam afetar a autenticidade da Bíblia as adições e supressões que nela fizeram os protestantes.

4. A declaração de um padre, A. Pereira, que aparece abaixo (no original deste artigo), não tem nenhum valor pelas razões apresentadas em 3 acima.

OBSERVAÇÃO DO OSWALDO: Queridos amigos leitores. Meu intuito era apenas fornecer-lhes alguma informação relativamente a este assunto tão explorado pelos inimigos da Igreja e para o qual não se encontravam onde se apoiar por se tratar de documento indisponível para nós na internet.

Para os que queiram complementar seus conhecimentos sugiro acessar: 

BIBLIA y TRADITION.

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